Pesquisar este blog

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

E a educação, como vai?


Hoje vi um comentário do jornalista Alexandre Garcia sobre o resultado do IDEB e a tradução da situação da Educação Básica brasileira, o que me fez passar o dia inteiro pensando no assunto e analisar o cenário da minha cidade.


De acordo com o comentarista, perdemos na comparação com países vizinhos da América Latina. Saudamos as melhorias, mas é como comparar as três medalhas de ouro da última Olimpíada com a única medalha de ouro da Olimpíada de Helsinki, em 1952, e concluir que triplicamos o ouro.

Na comparação com a América Latina, estamos abaixo da média. E é bom que tenhamos uma avaliação assim, para que se saiba o quanto é preciso melhorar, já que é uma questão de sobrevivência, porque a educação está na raiz de tudo.

São difíceis bons resultados no país onde faltam bibliotecas, museus e laboratórios nas escolas, onde pais pouco se interessam em participar, onde estudantes chegam à escola com fome, onde é preciso polícia na porta da escola.

Salários e formação de professores do Fundamental e Médio deixam a desejar. E no IDEB, combinar aprovação com matemática e português é relativo, porque nem sempre a aprovação é por mérito e os piores alunos desistem.

Aliás, o mérito vem sendo superado por cotas nas universidades. Assistencialismo não rima com melhoria e desta forma o ‘dever de casa’ é feito ao contrário. Há um aspecto perverso em nosso sistema escolar, que tem muito a ver com um dos maiores problemas brasileiros, que é a concentração da renda e a desigualdade social. Como essa desigualdade penetra integralmente no sistema educacional, nossa população é escolarizada de forma muito desigual, tanto quantitativamente como qualitativamente, obviamente em detrimento das camadas mais desfavorecidas.

Por isso, um dos problemas que enfrento a cada ano é a falta de qualidade com que uma fração significativa dos alunos chegam às salas da Universidade. Alunos que tem problema com a matemática e o português não conseguem dominar os assuntos mais básicos da profissão que escolheram. Onde será que estamos errando?

Muitos sonham em chegar na Universidade e acham que estes sonhos estão distantes, nas nuvens. Realmente estes sonhos estão no lugar certo. Basta então cada um construir os alicerces para alcança-los e neste caso falo em educação.

Na minha concepção, a educação deve ser direito do indivíduo, dever do estado e também da família. É imprescindível que as crianças para se tornarem cidadãos instruídos, precisam de uma boa formação escolar. Isso é possível quando se encontram com professores desejosos em transmitir o que sabem para, assim, desenvolver no aluno um desejo de saber, o que é lido como curiosidade e investigação para aprender.

Já a escola representa um lugar de emancipação da criança a respeito de seu grupo familiar, onde a criança vai poder estar e falar com outros além de seus pais. Sendo um campo onde ela estabelece outros laços que lhe possibilitam receber recursos que poderá utilizar no futuro: com outros semelhantes, na escolha de profissão, etc.

Dito isso, fica claro que a escola propicia a socialização da criança, mas, é a família e sua função um dos maiores responsáveis pela educação e desenvolvimento dos filhos. Até para que a Educação pedagógica possa ser efetivada, para que ela tenha eficácia, depende da estrutura familiar do aluno.

Vamos então analisar uma parcela da educação de Cruzeiro do Sul baseado nas informações do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) que foi criado para avaliar o nível de aprendizagem dos alunos.

Cruzeiro do Sul recebeu, em 2011, para investimentos em Educação o montante de R$ 19.503.143,65. É a segunda cidade mais ‘desenvolvida’ do Acre. Neste mesmo ano, matriculou 5.566 crianças no Ensino Fundamental na zona urbana e rural. Para efeito de comparação, vamos usar a cidade de Brasiléia, que apresenta o melhor índice do estado. Ela apresentou, em 2011, 2.125 crianças matriculadas no ensino fundamental e somente 33% do que recebeu Cruzeiro do Sul. 

Traduzindo: A prefeitura investiu R$ 3503,98 em cada criança e teve um índice de 0.9 abaixo do que Brasiléia que investiu somente R$ 2990,97 (15% a menos). Ressalto ainda que o índice, que pode variar de 0 a 10, em Cruzeiro do Sul foi de 4.4 superando os míseros 2% da meta estabelecida, contra os 5.5 pontos em Brasiléia, superando em 29% a sua meta. Manoel Urbano que apresenta números menos expressivos de investimento e alunos apresentou um índice de 4.8, superando 55% da meta prevista.

Será que a política de educação básica em Cruzeiro do Sul não está voltada principalmente para o assistencialismo em detrimento às políticas que estejam apoiadas na administração com os fundamentos da moderna ciência da administração, apoiada nos princípios da eficácia, da eficiência e da efetividade, com participação efetiva de todos os segmentos (alunos, pais, professors, servidores das escolas, da secretaria de educação e o prefeito)? Onde está localizado o problema?

Então, qual a finalidade destes números? 

Para os pais, o Ideb é uma excelente ferramenta para orientar a escolha de qual escola matricular seus filhos e também para estimulá-los a cobrar, dos governantes e dos diretores das instituições, melhorias. Abaixo os índices das escolas municipais de Cruzeiro do Sul:

4.4
0.86
5.17
4.6
0.95
4.85
4.5
0.88
5.15
4.7
1.00
4.69
5.0
0.98
5.06
4.5
0.94
4.77
4.2
0.96
4.42
5.0
0.95
5.25
Ø
0.95
Ø
3.7
0.81
4.56
4.4
0.93
4.68
4.4
0.91
4.78

Aos responsáveis pelas escolas, o índice aponta bons exemplos que merecem ser seguidos (colégios que precisam se aperfeiçoar podem pesquisar boas iniciativas em seus vizinhos mais bem colocados no ranking).

Uma análise das instituições campeãs do ranking mostra que medidas simples trazem resultado. O que essas escolas têm de diferente, no geral, é seu empenho em ensinar, ou seja, o compromisso de cada educador com seus alunos. Traduzindo em exemplos: nesses colégios mais bem colocados, a média de permanência do diretor no cargo é de no mínimo três anos, contra a média nacional de doze meses. Outro: neles lê-se pelo menos quatro livros por semestre, enquanto a maior parte das escolas brasileiras não faz exigência de leitura. A porcentagem de professores com curso superior completo também é maior nos endereços mais próximos da excelência (92% contra a média nacional de 68%).

Além de instrumento de análise, o Ideb é também um sistema de metas. As metas são estipuladas de acordo com o patamar atual de cada instituição, mas todas devem melhorar seus índices. O Ideb ainda ajuda prefeitos e governadores a radiografar quais são as escolas problemáticas e promissoras de sua rede.

E a educação do nosso município, para onde vai?