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domingo, 4 de setembro de 2011

O Acre e a Expansão da Fronteira Amazônica


Por Reginâmio Bonifácio de Lima

As políticas de expropriação e formação de mercados de reserva se deram tardiamente na Amazônia em relação ao restante do país. Contudo, foram vistos os efeitos alardeadores das disparidades exercidas pela “ditadura do grande capital” e pelas práticas governamentais voltadas aos interesses de uns poucos. Por séculos, as terras amazônicas ficaram relegadas ao esquecimento pelas Monarquias Portuguesa, Espanhola e pelo Império Brasileiro. Poucas foram as incursões nesse período para ocupar as terras e expandir a fronteira. Algumas poucas Fortificações, Entradas, Bandeiras e Missões galgaram espaço rumo às cabeceiras do Rio Amazonas, até que houve o primeiro surto da borracha.
A borracha amazônica era bem conhecida e utilizada pelos índios. Eles faziam artefatos de borracha e brinquedos para os curumins, além de utilizá-la como impermeabilizante.
As terras ao sul da Amazônia Ocidental, atualmente chamadas de Acre, por vários séculos foram tidas como desconhecidas ou “terras não descobertas” e assim permaneceram até meados do século XIX. O Tratado de Madri, firmado em 13 de janeiro de 1750, regularizou os limites entre as terras portuguesas e espanholas, mas não delimitou a área especificamente referente ao Acre; outros tratados foram produzidos e, de mesma forma, não estabeleceram, no terreno, a linha fronteiriça que abrange do Rio Madeira ao Javari.
Em 1762, com o uso da terebintina, houve um avanço na qualidade da consistência da borracha e consequente avanço na produção. A Europa estava vivenciando o início da Revolução Industrial e o mundo em industrialização estava querendo usufruir as riquezas da Amazônia.
Após a descoberta do processo de vulcanização da borracha, em 1844, por Thomas Hancock, na Inglaterra, e Charles Goodyear, nos Estados Unidos, foi possível dar outras utilidades à borracha. Esta se tornou indispensável para a sociedade capitalista.
A introdução de barcos a vapor em 1853, bem como a abertura do Rio Amazonas à navegação internacional, fizeram com que a comercialização da borracha aumentasse em muito, a ponto de, ainda no século XVIII, superar a de cacau no porto do Pará.
Os limites da fronteira Brasil-Bolívia ainda não haviam sido fixados, nem os marcos colocados, daí a dificuldade; nem a Bolívia sabia que as terras lhe pertenciam. A linha limítrofe leste-oeste só existia nos tratados internacionais. Os brasileiros eram os únicos a explorar a borracha, que atendendo uma demanda existente desde 1839, mas que não havia sido suprida até a grande seca do Nordeste, em 1877. Em decorrência desta seca, levas de imigrantes, sem condições de vida, chegavam às terras da Amazônia em busca de sobrevivência, formando os seringais do Acre e seus primeiros núcleos populacionais, em busca de riqueza fácil.
A “fronteira” somente foi definida oficialmente no dia 17 de novembro de 1903, com o Tratado de Petrópolis, anexando as terras do Acre ao Brasil; um pagamento ao Bolivian Sindicate de 110 mil libras esterlinas; e à Bolívia, de dois milhões de libras esterlinas, além da construção da ferrovia Madeira-Mamoré.
Ao fazer um estudo de delimitação espacial geográfica sobre o Estado do Acre, uma das 27 unidades federativas do Brasil, é certo dizer que quanto a sua extensão territorial, é o 15° em tamanho, com uma superfície de 164.221,36 Km², correspondente a 4,26% do território da região Norte e a 1,92% do território nacional (IBGE, 2008). A densidade demográfica do Estado é de 3,99 hab/km² (Atlas do Estado do Acre). O Acre é o 24º Estado mais populoso do Brasil, com 655.385 habitantes, de acordo com o Censo 2007, do IBGE. A população do Acre repre­senta 2,80% da população brasileira e na região Norte, representa 4,48% do total da população (Atlas do Estado do Acre).
O Acre está situado num planalto com altitude média de 200m, localizado a sudoeste da Região Norte. Faz divisa com os Estados do Amazonas (N) e Rondônia (L) e fronteira com a Bolívia (SE) e o Peru (S e O). As cidades mais populosas são: Rio Branco, Cruzeiro do Sul, Feijó, Sena Madureira e Tarauacá.
Na região do Vale do Acre, os rios e igarapés tinham funções fundamentais para a sobrevivência do povo dentro da Amazônia Ocidental, pois esses afluentes naturais serviam para o escoamento de produção, transporte de passageiros, transporte de cargas e mercadorias em geral.
Até o fim do século XIX fazia parte do território boliviano, cuja soberania era reconhecida pelo Brasil, mesmo com seringueiros brasileiros morando na região. Porto Acre chamava-se, então, Puerto Alonso e era sede do consulado da Bolívia na região.
O escritor José Wilson Aguiar faz um importante relato sobre a localidade, informando que:
Antes da chegada da comitiva boliviana chefiada por D. José Paravicini, Ministro Plenipotenciário da República da Bolívia, Porto Acre era conhecida como Pombal, devido ali existir uma grande quantidade de pássaro nativo do sertão cearense, a pombinha. Porto Acre foi fundada em 3 de janeiro de 1899 por Dom José Paravicini com o nome de Puerto Alonso, nos primeiros dias da administração de Paravicini veio à lume o primeiro jornal feito no Acre, o El Acre, que circulou até o número 5, e nele vem estampado o brasão das armas da República da Bolívia. Foi ali mesmo em Puerto Alonso que foi instalado logo após sua fundação, um Posto Aduaneiro incumbido de cobrar taxa marítima de navios e gaiolas que levavam borracha para os postos de Manaus e Belém, conseqüentemente, essa mercadoria era revendida aos mercados consumidores de borracha na Europa e nos Estados Unidos. Em 1º de maio de 1899, à comitiva boliviana foi dado intimação para abandonar Puerto Alonso, habitada por cearenses comerciantes e seringueiros... O período compreendido entre março de 1900 a junho de 1902, o Acre foi administrado por uma Junta Governativa, formada por seringalistas (AGUIAR, 2004).
Grande parte das terras do Acre fazia parte do território boliviano, mas, segundo autoridades competentes da província do Amazonas e também do Brasil, os próprios bolivianos não tinham como precisar exatamente os limites de fronteiras a oeste dessas terras. Para os bolivianos, Puerto Alonso era uma vila bem pequenina, com algumas pouquíssimas casas.
A colonização das áreas de terras que compõem o atual Vale do Acre foi um aspecto relevante no estudo da formação e expansão da empresa extrativista da borracha no Acre. Muitas pessoas vieram do Nordeste para trabalhar nos mais diversos seringais da Amazônia Ocidental, sendo o seringal Bom Destino, situado dentro das terras do atual município de Porto Acre, um dos maiores seringais da Amazônia, e por consequência, um dos que possuíam maior número de funcionários, seringueiras e também maior rentabilidade. A extração do látex foi a atividade econômica que definiu para a região um esquema de produção baseado, fundamentalmente, na grande propriedade territorial. E essa estrutura agrária, passou a se demonstrar fortemente concentrada a contar de 1877, marco da ocupação das terras acreanas pelos nordestinos.
A chegada ao Acre não foi nada fácil, pelo contrário, as dificuldades chegavam a ser absurdas. Os primeiros trabalhadores vieram sozinhos, e logo depois, com suas famílias. Esses seres humanos chegaram completamente endividados, em busca dos ideais pregados no Nordeste, de riqueza fácil e terra farta. Sobre essa questão de desafios, principalmente, no pós-meado do século XIX, percebemos que cidadãos aguerridos passaram a percorrer trilhas, adentrando florestas completamente cerradas, caminhos, varadouros, estirões de terras, enfim, buscando um local para abrigar toda a família, a partir daí, Reginâmio Lima escreve:
Vir para a floresta amazônica era ir mais além, e isso traduz a força de uma gente que não se dá por vencida. Nessa busca, atravessaram rios, percorreram varadouros, indo até o fim de uma prova cheia de perigos, mesmo que não conhecessem o limite. Nesse caminho, muitos não vieram para ficar, mas poucos retornaram e a maioria jamais conseguiu sair. Os últimos, quando pensavam que haviam encontrado seus lugares, tiveram que reiniciar o percurso, atravessar novos caminhos e perigos em busca de um novo local. Esse foi um tempo de profundas mudanças (LIMA; BONIFÁCIO, 2007, p. 101-102).
Eram muito grandes as dificuldades encontradas por aqueles que buscavam resolver seu problema de moradia através das chamadas terras devolutas. Nessa perspectiva, podemos perceber a grande dificuldade dessas pessoas em relação a questões como habitação, trabalho e saúde, dentre outros fatores, que assolavam esses seres humanos. Outros problemas enfrentados eram a luta por seus sonhos, seus valores e, muitas vezes, o distanciamento de seus pais e irmãos, que para trás ficavam.
Sobre o primeiro surto da borracha e o mercado internacional, Carlos Souza menciona:
O chamado Primeiro Surto da Borracha na Amazônia ocorreu numa época de industrialização em alta escala nos Estados Unidos e nos países europeus, como a Inglaterra, por exemplo, a partir da segunda metade do século XIX. A região do Acre foi inserida nesta corrida pela exploração da borracha (SOUZA, 2005, p. 77).
Os brasileiros, da província do Amazonas, interessados nos lucros advindos da borracha resolveram pegar para si parte das terras do Acre para a grande colonização. Para tanto, baseavam-se na prerrogativa jurídica assegurada pelo usucapião, asseverando que a terra é de quem a ocupa. Por esse princípio, portanto, eles mereciam a terra por estarem a ocupando e a explorando, garantindo lucros para o Amazonas e também para o Brasil.
Ainda no decorrer do Primeiro Surto da borracha, Porto Acre foi considerado um município histórico, por ter sediado, no final do século XIX e no início do século XX, repartições bolivianas e também brasileiras. Na época em que ainda se chamava Puerto Alonso, nome dado pelos bolivianos, e depois alterado por Luiz Galvez para Cidade do Acre, esse município foi o palco de sangrentas batalhas que culminaram com a incorporação do território acreano à nação brasileira.
A questão da borracha da região acreana é algo centenário. Na passagem do século XIX para o XX, logo se perceberia que as fabulosas somas arrecadadas na exportação de borracha e na importação de mercadorias para abastecer os seringais não significavam desenvolvimento para o nascente Território Federal do Acre. O Governo Federal mandava apenas uma pequena parte para a administração do Território, onde não havia escolas, hospitais ou quaisquer outras estruturas públicas.
Toda a imensa riqueza acumulada durante os anos áureos da borracha amazônica havia sido drenada para os cofres federais, relegando o Acre ao completo abandono oficial.
Muitos foram os seringueiros que vieram para o Acre, e também para as terras onde fica o município de Porto Acre. Numerosas quantias de dinheiro foram recolhidas da região durante o primeiro e segundo ciclos da borracha. Mas, a população portoacrense não viu quase que nada do dinheiro fruto da exploração extrativista na localidade.
Era tempo de se buscar novas formas de organização social e de encontrar novos produtos que pudessem substituir a borracha no comércio internacional. Os seringais se transformaram em unidades produtivas mais complexas. Teve início a pratica de uma agricultura de subsistência que diminuía a dependência de produtos importados, uma intensificação da colheita e exportação da castanha e o crescimento do comércio de “peles de fantasia”, como era chamado então o couro de animais silvestres da fauna amazônica. Começavam assim, impulsionadas pela necessidade, as primeiras experiências de manejo dos recursos florestais acreanos.
Com a crise do sistema da borracha, em 1920, ocasionada pela queda do preço no mercado internacional e diminuição da produção da borracha acreana, várias foram as mudanças ocorridas na economia local.
Não há grandes alterações na economia acreana até a década de 1940, quando as atividades orientadas pelo capital mercantil, em um novo esforço de produção extrativa, retomaram a extração da borracha.
Nem mesmo o novo período de prosperidade da borracha, provocado pela Segunda Guerra Mundial, foi capaz de modificar esse quadro. Durante três anos (1942-1945) a “Batalha da Borracha” trouxe milhares de famílias nordestinas para o Acre, repovoando e enriquecendo novamente os seringais.
Os trabalhadores vindos do Nordeste durante o período da Segunda Guerra Mundial foram também chamados de soldados da borracha. Esse foi o nome dado aos seringueiros chamados pelo Governo Federal para atuarem na Amazônia, consequentemente, na região acreana, a fim de trabalhar na produção de borracha e atender a grande demanda e a insuficiente produção. Em plena Guerra, os japoneses cortaram o fornecimento de borracha para os Estados Unidos. Como resultado, milhares de brasileiros da Região Nordeste foram enviados para os seringais amazônicos, em nome da luta contra o nazi-facismo.
Somente a partir da Constituição de 1988, mais de 40 anos depois do fim da Segunda Guerra Mundial, os soldados da borracha ainda vivos passaram a receber uma pensão como reconhecimento pelo serviço prestado ao país. Tratava-se de uma pensão irrisória, dez vezes menor que a pensão recebida por aqueles que foram lutar na Itália e combater os mesmos nazismo e fascismo.
Quando da desmobilização dos soldados da borracha, os que para cá se deslocaram cumpriam o propósito de extrair látex para os países aliados, principalmente para os EUA. Esses brasileiros agiam como verdadeiros soldados no meio da selva amazônica. Tanto trabalharam que, com algum tempo, não havia mais tanta necessidade da produção que se tornava “excedente” em relação às necessidades mercantis urbanas. As áreas agrícolas não se expandiram; mais pareciam um processo de assentamento da população mais pobre que não tinha posse da terra onde permanecia. As áreas agrícolas mais próximas do núcleo urbano, e pouco a pouco, as pessoas nelas residentes, foram se afastando do vínculo de trabalho diretamente na terra.
A forma de ocupação implementada na região acreana desde fins do século XIX até meados do século XX era essencialmente extrativista da borracha. Somente a partir da década de 1970, com a transferência das terras dos seringais falidos aos compradores do Centro-Sul, viu-se um acelerado crescimento das pequenas propriedades, embora a posse da terra tenha continuado extremamente concentrada.
As migrações da zona rural para a urbana e dos pequenos centros para as cidades fizeram ocorrer uma grande explosão demográfica em alguns centros amazônicos, aumentando as “periferias”, levando os trabalhadores expropriados a viver à “margem” das cidades. Tudo isso, em grande parte, foi fruto das políticas públicas e atividades capitalistas implementadas na floresta amazônica.
A luta pelo progresso levou o Brasil na década de 1960 a, teoricamente, caminhar para a reforma agrária na Amazônia. A intenção era que pudesse haver um apaziguamento das relações entre posseiros e compradores das terras e, conseguinte resolução das tensões que haviam sido suscitadas pelo reordenamento das atividades nas terras que antes eram dos seringais.
Desde 1964, com a reorganização econômica proporcionada pelo Governo, após o Golpe Militar, houve uma visível política de transferência de seringais para empresários do Centro-Sul. Várias transações para a aquisição de terras foram feitas, sendo muitas delas realizadas de forma fraudulenta, ao ponto de se instalar uma Comissão Parlamentar de Inquérito, no ano de 1968, para apurar as denúncias, tendo como resultado a verificação de mais de 150.000 Km² de áreas de terras negociadas para grupos estrangeiros. O deputado Haroldo Veloso, da Aliança Renovadora Nacional – ARENA – apresentou tais resultados em seu relatório.
O projeto de transformação da economia acreana passou por um processo que contou com o apoio do então governador Jorge Kalume, que apoiou a “Operação Amazônia”, assinando junto com outros governadores, políticos, intelectuais e empresários a “Declaração da Amazônia”, de 11 de dezembro de 1966. Essa declaração era fruto da reunião denominada “Investidores da Amazônia”, ocorrida a bordo do navio Rosa da Fonseca, no Rio Amazonas, em dezembro de 1966. Em um dos itens da declaração acima citada, lê-se: “que os índices de evolução da economia regional, nos anos recentes, demonstram uma tendência espontânea à gradativa substituição do extrativismo, como setor principal por atividade economicamente mais produtiva e socialmente mais evoluída”.
Nos últimos anos da década de 1960, foi perceptível uma ruptura no padrão de ocupação territorial nas capitais amazônicas. As alterações produzidas davam conta de um redimensionamento do quadro urbano com o aumento da migração contínua para as cidades. O principal fluxo migratório se deu mais intensamente para a banda oriental, com predominância de composição rural, atingindo principalmente as cidades de Macapá, Porto Velho e Rio Branco.
A Amazônia trocava pelas de borracha por dinheiro, que não enriqueceu os seringueiros, mas formou grandes fortunas Brasil a fora. A modernização tardia implementada pela “industrialização substitutiva” levou o Estado a sustentar a sua modernidade com recursos provenientes dos meios ditos atrasados.
As transições ocorridas na Amazônia, principalmente a partir dos anos 1960, foram “pelo alto”, onde o governo agia procurando mecanismos explícitos de incentivos empresariais para atrair capital e empreendedores de diversos setores econômicos, enquanto as gentes que migraram em direção a esse local, atraídas pela política de colonização, tiveram poucos recursos e o apoio do Estado de forma reduzida.
Em nome de uma pretensa integração do Acre ao espaço nacional de desenvolvimento capitalista, durante fins da década de 1960 e início da seguinte, as terras públicas foram vendidas, e, por conseguinte, as populações nelas residentes foram obrigadas a sair – o que resultou num intenso fluxo migratório.
O ajustamento cultural dos migrantes vai constituir novos contingentes de trabalhadores, mas também expor o sentimento de identificação com a terra como meio de produção e constituição de laços internos de solidariedade e defesa – traços característicos ao processo de formação que, em geral, esses migrantes levam consigo para as cidades.
No início dos anos de 1970, a reocupação das terras acreanas, proveniente da corrida pela incorporação de áreas de fronteira, fomentada pelo Governo Federal, se deu pela inserção de grandes grupos econômicos, principalmente empresários paulistas.
Ao mesmo tempo em que se observa, nesse mesmo território, uma pluralidade de identidades coletivas, envolvendo diversidades em relação a origens, aspectos culturais, trajetórias de vida, que aproximam e distinguem grupos de indivíduos entre si.
Informações obtidas no Atlas do Estado do Acre (2009), dão conta de que:
Ainda na década de 1970, com a pavimentação da BR 364, foram criados muitos projetos de assentamento de reforma agrária, ocupados por colonos, camponeses e trabalhadores rurais sem terra, que buscavam oportunidades de acesso a terra na nova fronteira agropecuária. A região do leste acreano abriga muitos assentamentos criados neste período.
O reconhecimento das dificuldades e a degradação ambiental provocada por modelos de assentamento mal adaptados às características naturais da região amazônica, fizeram o INCRA criar alternativas inovadoras, como os Projetos de Desenvolvimento Sustentável - PDS de 2001 e Projetos de Assentamento Florestal – PAF, de 2003, além dos Projetos de Assentamento Extrativistas - PAE, criados anteriormente. Estes assentamentos são orientados por princípios que visam conciliar o seu desenvolvimento produtivo com a conservação da natureza e a regularização fundiária. Em âmbito Estadual há os Pólos Agro-florestais, criados em 2005, com o objetivo de assentar famílias carentes ou originárias da zona rural, concentradas nas periferias das cidades, que vivam abaixo da linha de pobreza e recuperar áreas alteradas através da implantação de Sistemas Agroflorestais, mantendo a capacidade produtiva do solo, além de contribuir para a diminuição de desmatamentos.
Vale ressaltar que a pavimentação da BR 364, na década de 1970 não contemplou o trajeto Porto Velho – Rio Branco.
No mesmo Atlas do Estado do Acre, sobre as áreas específicas do Estado do Acre, ainda  podemos ler que:
O Acre possui diversas áreas destinadas à conservação da natureza. Entre elas se destaca o Parque Nacional da Serra do Divisor – PNSD, criado em 1989 com o objetivo de proteger o ambiente formado por montanhas cobertas de florestas úmidas com alto grau de endemismo e com presença de fósseis. Os 843.000 hectares do PNSD cobrem grande parte da região, considerada de maior biodiversidade da Amazônia.
Há ainda outras unidades como a Estação Ecológica do Rio Acre (criada em 1981), que protege outra região natural excepcional das nascentes do Rio Acre e o Parque Estadual do Chandless (criado em 2004). Juntas, as áreas protegidas formam mosaicos compostos por Unidades de Conservação de Proteção Integral e de Uso Sustentável, como as Florestas Nacionais e Estaduais e Reservas Extrativistas intercaladas por Terras Indígenas. Estas áreas protegidas ocupam mais de 45% do Estado, que é coberto por formações florestais altamente diversificadas e de alto potencial econômico.
A terra estava ganhando ares de mercadoria. O novo modelo de ocupação produzido pela pecuária retirava os trabalhadores da floresta e lhes negava as mínimas condições de sobrevivência. As decisões da justiça estavam comprometidas com o modelo de desenvolvimento, a própria imprensa e os meios de comunicação eram extensões do poder, se omitindo acerca das questões agrárias e fazendo absoluto silêncio sobre as contradições no meio rural.
A Igreja Católica que já não tinha o conservadorismo como marca dominante em suas hostes, encontrava base de evidência na realidade econômica em curso, como ocorreu em Medellín. A prelazia acreana-puruense percebeu esse problema e começou a agir, intervindo nas questões por meio de informativos, integração e unificação dos trabalhos das Comunidades Eclesiais de Base, uma vez que o Estado, ávido pela “modernização”, deixava clara sua ausência de neutralidade.
A Igreja acreana tinha inserido em seu boletim pastoral temas relacionados com os grupos e movimentos sociais, e mesmo as temáticas religiosas eram tratadas numa linha “progressista libertadora”.
A igreja auxiliou na formação dos sindicatos rurais, deu apoio logístico, mobilizou as comunidades e atuou diretamente na formação e transformação dos espaços sociais e ambientes urbanizados, auxiliando as lideranças e lutando por pelos homens e mulheres expulsos da zona rural que vieram para as cidades em busca de melhores condições de vida.
Com a aprovação do primeiro Plano Nacional de Desenvolvimento – PND –, em 1971, com abrangência de 1972 a 1974, durante o governo Médici, foi produzida uma série de investimentos nos setores siderúrgico, petroquímico, transportes e energia, foi criado o Mobral, iniciaram-se grandes obras como a ponte Rio-Niterói e a rodovia Transamazônica. Era um tempo de entusiasmo e euforia.
Em 1971, o BASA suspendeu as linhas de financiamento aos seringalistas endividados, por considerá-los incapazes de saldar seus compromissos, decorrentes de empréstimos feitos ao banco. No mesmo ano, o novo governador acreano, professor Wanderley Dantas, facilitou a aquisição de terras por empresários de outros lugares.
Quanto a expansão agrícola para a Amazônia e a implantação dos Projetos de Assentamento Dirigidos (PAD’s), Souza (2002) escreveu que:
A região Amazônica serviu como última zona de expansão da fronteira agrícola do país. Não obstante, observa-se que o processo de colonização aqui praticado opera com base na agricultura desenvolvida pelo grupo familiar. Posto que esta região foi a que mais recentemente estava disposta a absorver os enormes contingentes populacionais vindos de outras regiões do país expulsos pelo fechamento da fronteira agrícola.
Em função desse processo, o Estado do Acre passa a sofrer consideráveis modificações em seu quadro agrário, pois com a derrocada da extração vegetal da borracha como principal atividade econômica, a pecuária vai cada vez com maior intensidade conquistando o seu espaço, o que, por conseguinte, viria a acirrar uma série de conflitos sociais pela posse da terra em várias partes do Estado. Com o objetivo de erradicar certas tensões, o governo local intercede junto ao governo federal brasileiro para que este iniciasse através do INCRA um processo de implantação de Projetos de Assentamento Dirigidos (PAD’S) no Estado do Acre.
Independentes do que tenha ocorrido com os PAD’s do Acre após as suas respectivas criações, o objetivo maior do governo estatal e federal ao criá-los era assentar posseiros e sem terras, dando-lhes condições básicas para praticarem e desenvolverem a agricultura familiar, permitindo inclusive a geração de renda e melhores nas condições de vida dos pequenos agricultores desta região (SOUZA, 2002, p. 9).
A política econômica adotada a partir de 1964 favoreceu os Estados da Amazônia com uma participação de forma mais efetiva na formação do capital e consequente integração à propaganda produzida pelo Governo Federal no sentido de “ocupar para desenvolver” a região; a construção de rodovias como Belém-Brasília, Cuiabá-Santarém, Brasília-Acre; e, pouco depois, no Acre, a especulação fundiária, o crédito fácil e barato, as facilidades para a expansão da pecuária, criaram um desequilíbrio social, afetando diretamente as populações que passaram a ocupar as periferias das cidades, principalmente da Capital acreana.
Assim sendo, percebe-se que a mobilidade é uma regra na Amazônia atual, o movimento sobrepõe-se ao repouso e quando o homem muda, junto com ele mudam também as mercadorias, as imagens e as ideias.
O desenvolvimento posto na Amazônia e no Estado do Acre, fruto do predomínio dos países industrializados, não é socialmente justo, nem ecologicamente sustentável. A Amazônia está inserida na lógica de dominação capitalista, que rompe fronteiras, fomentada pelo crédito de incentivos fiscais, que moldaram o processo de desenvolvimento regional. Como conseqüência, houve os conflitos pela posse da terra, contradições urbanas e rurais e continuação do estabelecimento de desigualdades na apropriação do espaço econômico, político e sócio-ambiental da região e em específico, no Estado do Acre.
O fomentado “desenvolvimento acreano” não chegou às classes trabalhadoras, como forma de melhorias sociais. Desde o fim da década de 1970 até a atualidade, a questão ambiental está internacionalizada, com fomentos para uma postura de desenvolvimento – ainda não sustentável – onde se busca construir cenários para a formação da base necessária à atuação dos grupos ligados ao “progresso humano” em detrimento da “barbárie” na região.

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