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domingo, 20 de março de 2011

Amazônia contra a malária

A intenção é usar o conhecimento popular como um atalho para novos medicamentos. Tais ferramentas pertencem à esfera da etnobotânica, que é o estudo do uso de plantas por agrupamentos humanos. "A malária foi introduzida na Amazônia há mais de 200 anos e tanto os índios como os caboclos tiveram de desenvolver meios próprios de se tratar", diz Ming. "Esse aprendizado é um ponto de partida para a pesquisa de novas drogas."

As estratégias disponíveis para combater a doença atingiram um limite. Os mosquitos que transmitem a doença, do gênero Anopheles, vêm criando resistência a inseticidas, e a cloroquina, o mais tradicional remédio contra a malária, já não é eficaz contra algumas cepas do Plasmodium falciparum. Existe outra opção, a erva asiática Artemisia annua, da qual se produz a artemisinina, mas seu custo de produção é ainda elevado. Os índios e as populações ribeirinhas sofrem com a malária desde o século 18, quando a doença foi trazida da África com os colonizadores. Levar em conta essa experiência pode conduzir a novas estratégias de combate.

Riscos - A malária é uma doença debilitante, que provoca febres e anemia, e torna o organismo suscetível a outras moléstias. Diminui o rendimento no trabalho, exige deslocamento das vítimas para locais que tenham condição de fazer diagnóstico e em alguns casos pode ser letal, sobretudo em indivíduos malnutridos. "Em caso de malária na gravidez", comenta Ming, "pode ocorrer má-formação do feto, atraso no desenvolvimento intra-uterino ou mesmo abortos, além de seqüelas permanentes na criança."

No Brasil, 99% dos casos de malária ocorrem na Região Norte, onde a moléstia mantém um fôlego desafiador: de 11 mil casos no Amazonas em 1985, chegou a 180 mil em 2000, caindo para 40 mil no ano seguinte. "Em 1999 houve o maior surto no Amazonas, com 167.722 casos registrados e certamente muitos milhares não incluídos nas estatísticas", conta Hidalgo. "Foi nesse momento que decidi trabalhar com mais afinco na procura por alternativas para minimizar o sofrimento causado pela malária."

Entre 2001 e 2003, Ming e Hidalgo, em cinco viagens que duraram em média dois meses e meio cada uma, visitaram três municípios da região de Manaus (Careiro, Presidente Figueiredo e Rio Preto da Eva) e quatro na área deinfluência do rio Solimões (Atalaia do Norte, Benjamin Constant, Tefé e Coari). Em cada lugar, selecionaram os entrevistados com o apoio de agentes da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) e voluntários da Pastoral da Criança.

Embora a Funasa promova campanhas periódicas sobre a importância de combater os mosquitos, boa parte dos entrevistados ainda acha que a malária se propaga mesmo é pela água. "Muitos associam a malária às favas (vagens) que caem de uma árvore, o baú-baú, contaminando a água", diz Hidalgo. "Na verdade, há uma coincidência entre o ciclo reprodutivo da árvore e as cheias, que alagam terrenos e favorecem a proliferação dos mosquitos e, conseqüentemente, da malária." Hidalgo e Ming pretendem até 2006 repetir a pesquisa na calha do rio Negro, onde é mais forte a presença de índios do que de caboclos.

Fonte: FAPESP OnLine

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